Foto do Casamento de Gláucia e Débora
Os adultos, da esquerda para a direita, em pé : Gláucia e Francisco Espínola de Carvalho, Débora e Benjamin Ferraz Daltro, Álvaro e Cândida Rodrigues de Freitas (depois Carvalho), Josefina, Pedro, Jose Jorge, Elvira e Francisco Modesto, Olívia e Tibúrcio Pereira dos Santos, Elisa e João Severiano de Brito. Atrás, as crianças: Esther, Tiburcinho (neto), Atália (com 14 anos), Nathanael, outra criança, e Adélia (com um grande laço na cabeça). Sentada à frente está, D. Clara Alves de Castro, mãe de D. Josefina.
José Jorge de Carvalho nasceu em Mamanguape em 1864 e era filho de Alexandre Jorge de Carvalho e Felisbela Jorge de Carvalho. Sua esposa, D. Josefina Umbelina de Carvalho nasceu em Caiçara em 1866 e era filha do Sr. Manoel Tibúrcio Alves de Carvalho e de Clara Alves Ferreira de Castro. Casaram-se na igreja católica em 1876 em Mamanguape. Tiveram 12 filhos no período entre 1882 e 1908. Os 5 primeiros nascidos em Mamanguape e os outros 7 na cidade de Parahyba, capital do estado. O primeiro filho do casal chamava-se Pedro e morreu ainda bebe porem os outros se desenvolveram normalmente.
Conversão - Corria o ano de 1894, a família Jorge de Carvalho morava em Mamanguape, seu chefe o Sr. Jose Jorge de Carvalho tirava o sustento da família de uma pequena mercearia, onde vendia verduras, frutas e gêneros de primeira necessidade. Tinha três filhos, por essa época, Álvaro, Elvira e Elisa e já para nascer-lhe um quarto de sua amada esposa D. Josefina, a qual chamava carinhosamente
de “Fifa”. Certa vez bateu-lhe a porta um Senhor que depois soube ser o Sr. Francisco Philadelpho de Souza Pontes, que lhe vendeu uma Bíblia, era um colportor, nome dado aos vendedores de Bíblias pelos evangélicos. Recebeu-o em sua casa e comprou um exemplar da mesma com a garantia de que era traduzida por um padre católico.
Por essa época já havia, em Mamanguape, um pequeno trabalho de evangelização começado pelo pastor missionário Dr. George Edward Henderlite e que já tinha algumas poucas famílias freqüentando. Convidado por alguns amigos, foi a um culto e gostou. Desde ai passou então a freqüentar sempre que podia. Então, com a graça de Deus, o Senhor lhe abriu o entendimento e ele passou por uma experiência que modificou toda sua vida e depois de sua família. Sua esposa, quando soube criticou-o com veemência. Porem, um dia ela resolveu ler a Bíblia que ele guardava toda noite, embaixo do travesseiro. Sempre o fazia escondido. Em conseqüência disso, o Senhor lhe tocou o coração e ela aceitou Jesus como único e suficiente Salvador de sua vida. Dona “Fifa” era “filha de Maria” uma certa qualificação ou status na igreja de Roma. Ela então foi ao padre local para entregar-lhe o cargo de “filha de Maria”. O padre fez criticas severas a sua atitude chegando até a aparência de ameaça. O padre já não estava feliz com a nova congregação recém estabelecida no local e agora essa de perder os fiéis. O que fazer agora, o casal já havia batizado seus quatro filhos na igreja católica. Mas isso, não significava nada para os evangélicos,, desde que fossem batizados na Igreja Evangélica.
Desde então, passaram a freqüentar a nova Igreja, cada vez mais alimentados pela Palavra. Eram épocas difíceis, de severas perseguições religiosas. Não foi diferente com a nova congregação. Foi perseguida e fechada e depois expulsa de Mamanguape pelas “autoridades” da cidade, o padre, o vigário e o delegado juntos, com o pretexto de que só poderia haver uma religião na cidade. Mesmo com uma carta do governador, garantidos pela Constituição Imperial, eles expulsaram os evangélicos.
Ainda em 1894 o Sr. José Jorge de Carvalho e sua família, se mudam de Mamanguape, as presas, para a cidade da Parahyba, devido as perseguições sofridas. Por causa de sua conversão ao protestantismo, junto com seus quatro filhos, Álvaro, Elisa, Elvira e Pedro e sua esposa D. Josefina, os seus fregueses passaram, então a boicotar seu negocio, por ordem do padre, e ele teve que fechar.
Tornar-se protestante naquela época, numa cidade pequena era como declarar falência, arriscar tudo, ser alijado da população. Apesar da constituição garantir liberdade de culto. As autoridades locais, não respeitavam, expulsavam da cidade quem ousasse tomar tal atitude. A intolerância religiosa era muito forte e até mesmo causava a morte de alguns. Como aconteceu em São Bento do Una em Pernambuco com o Sr. Manoel (Né) Vilela para salvar o Dr. George Buttler, missionário e médico em andanças pelo interior de Pernambuco..
E foi assim, o que aconteceu com a família do Sr. José Jorge de Carvalho, seu pequeno negócio foi a falência e teve que mudar-se as pressas. Até seus próprios parentes de Mamanguape, recusaram-se a ajudá-lo.
Mudança para Barreiras (Bayeux) - Logo ao chegar aqui por volta de 1896, fixa residência em um sítio em Barreiras, hoje Bayeux, para depois compra-lo.
Em 1898, ajuda decisivamente, junto com outros membros da igreja presbiteriana, recém criada, a comprar o edifício do antigo Teatro Santa Cruz, pertencente a viúva do Sr. Lima Penante, precursor do teatro na Paraíba. Nesse edifício, situado à Praça 1817, funcionou por 86 anos a igreja presbiteriana até 1985, quando foi vendida por falta de espaço para se expandir. A sua fachada foi modificada para o que é hoje em 1924.
Em 1907, o Sr. José Jorge abre um negocio na Rua do Joazeiro, uma travessa da rua Maciel Pinheiro, mas logo fecha por não dar certo.
O sítio em Barreiras, serviu como residência para a família até meados de 1916, quando o Sr. José Jorge resolve, junto com dois de seus genros, comprar um sítio no caminho para Cabedelo junto a Praia do Poço, hoje Intermares. Ainda no sítio em Barreiras, nascem-lhes os filhos Débora, Gláucia, Olívia, Nathanael, Atália, Esther e Hely, hoje falecidos. Nesse período, corria o ano de 1909, o Sr. José Jorge ocupou o cargo de capatazia, uma espécie de fiscal responsável por uma parte do litoral, da ponta de Tambaú a ponta do Cabo Branco, para evitar contrabando. E trabalhou numa fábrica de cigarros cujo dono lhe tinha grande apreço. Essa fabrica era a Fabrica de Cigarros Popular cujo proprietário era o Sr. Roque de Paula Barbosa. No período de 1909 a 1916, trabalhou com experimentador de fumo e gerente da fábrica, era responsável pela compra do produto e seu refino.
Seu filho mais velho, o Sr. Álvaro Jorge de Carvalho, tinha o dom para o comercio e desenvolvia seu negócio com grande sucesso desde 1908. Tinha cada vez mais lucro em sua casa comercial. Em 1923, ele faz parte do corpo de jurados da Capital. Onde somente pessoas idôneas tomavam parte. Também em 1923, possuía duas casas comerciais na rua de Republica, nos prédios de números 345 e 354. Eram consideradas casas de 3º e 4º classes para efeito de imposto. Estabeleceu-se primeiro na rua da Republica, como vimos, depois na Beaurapaire Rohan, e em seguida na rua Barão do Triunfo. Teve seu auge em 1939, quando se tornou o comerciante mais próspero da cidade. Possuiu o segundo automóvel particular na cidade em 1928. Era um dos homens mais prósperos da cidade da Paraíba. Tinha grande prestígio junto as autoridades locais. Expandiu seus armazéns para Campina Grande e Guarabira. Na segunda metade da década de 30, comprou de cada um dos seus irmãos, suas partes no Sítio do Poço, que se localizava na praia de Ponta de Campina. Comprou no intuito de ajuda-los, pagou a cada um, Um conto de réis, (1:000$000).
Em 1916, após a compra do Sítio, que só tinha uma pequena casa de taipa bem tosca, insuficiente para abrigar toda sua família, o Sr. Jose Jorge enfrenta dificuldades para construir uma outra casa no local, devido a escassez e dificuldade no transporte de material. Naquela época somente o trem, que passava em Jacaré, vila de pescadores as margens do rio Parahyba, ligava a cidade ao Sítio. E da Estação do Jacaré para o Sítio eram 800 metros de caminhada por dentro do mato, seguindo uma pequena trilha. Resta-lhe somente, o aproveitamento de umas telhas que cobrem uma velha igreja católica, em ruínas, que fica dentro de sua propriedade. Trata-se da igreja de Almagre, do tempo da colonização. Hoje tombada pelo patrimônio histórico. Ele destelha a igreja e nota, que alguns pescadores ainda a usam como santuário. Daí, ele pede que eles se retirem para outra capela no Poço, e levem a imagem consigo. As telhas são de boa qualidade e bem grandes, fora do padrão da época, mesmo assim, são utilizadas com eficácia. Com elas, ele cobre a casa que constrói com massa feita de coquinhos, argila e óleo, ainda constrói uma casa de farinha na parte de trás. Constrói também casas de palha para os moradores do sítio.
Em 1917, o Sr. Jose Jorge passa a viver e sustentar sua família com a produção de cocos, madeira e frutas, plantava hortaliças e mandioca no sítio que tinha comprado. Moia a própria farinha num moinho improvisado dentro da casa que construiu. Continua, contudo, na gerencia da fabrica de cigarros.
Em 1919 manda tirar uma fotografia, ao lado das ruínas da antiga igreja de Almagre. Essa fotografia está acima.
A Festa de Casamento (1919) – Nessa época, o Sr. Jose Jorge casa duas de suas filhas, Débora, com o Sr. Benjamin Ferraz Daltro e Gláucia com o Sr. Francisco Espínola de Carvalho. Os casamentos ocorrem no Sítio com dois dias de festas, nessa ocasião, é tirada a foto maior que vemos acima. Outro fato interessante, foi a carne de porco estragada servida durante um jantar no casamento. As conseqüências foram desastrosas. A noite toda foi agitada com vultos de fraque a moverem-se por trás dos coqueiros.
Anos mais tarde, por volta de 1925, o Sr. Tibúrcio Pereira dos Santos e o Sr. Paulo Freitas resolvem ir para o sítio por Tambaú, pela beira mar, sofrem perseguição por parte de um negro como uma foice e só escapam porque o Sr. Paulo sai correndo depois de levar um soco que lhe quebrou alguns dentes e o Sr. Tibúrcio se esconde por algumas horas dentro do mar com terno e tudo. Foi tragicômico.
A Divisão - O Sr. Jose Jorge comprou o Sítio (hoje Intermares) em sociedade com seus genros, o Sr. João Severiano de Brito (Seu Joca do Gorro) e o Sr. Tiburcio Pereira dos Santos, que entrou com menos numerário. Em 1923, o Sr. José Jorge resolve dividir o Sítio com seu genro, o Seu Joca, e divide da seguinte maneira, “ Joca, você quer a parte beneficiada, com a casa, ou quer a parte menor, sem casa ?” Ele ainda não tinha acabado de construir sua casa, na época. Seu Joca decide então, que quer a parte menor com a casa, pois sua prole cresce ano a ano. O Sr. João Severiano de Brito era casado com D. Elisa Jorge de Carvalho (depois de Brito), terceira filha do Sr. José Jorge que teve cinco filhos. D. Elisa foi parteira das mais requisitadas na cidade. Inclusive, nasci sob suas maravilhosas mãos. Era uma pessoa meiga e tinha um verdadeiro carisma para com as pessoas.
A Doença - Em 1928, sua oficina de sapateiro progrediu para 1º classe e localizava-se na rua Beaurepaire Rohan. Logo, devido ao fumo – fumava cachimbo todos os dias – e ao seu emprego anterior como experimentador de fumo e gerente na Fábrica de Cigarros Popular, sua garganta começou a apresentar sérios problemas. Seu filho, o Sr. Álvaro Jorge resolveu, depois de consultar médicos aqui e em Recife, leva-lo ao Rio de Janeiro. Existia uma substância química chamada 914, que se aplicava com injeções, mas essa já não fazia mais efeito. Ouvira falar de um médico alemão que estava a fazer milagres com um novo remédio injetável. Vendeu parte de seu sítio, e com o dinheiro embarcou com seu filho mais velho, no Porto do Capim em um vapor, e ao chegar lá, depois de uma semana, o médico atendeu-o com uma tremenda arrogância dizendo que aquilo ia sarar logo, aplicou-lhe um ou duas injeções, porém, sem resultar em melhora aparente, até que, dois meses depois, sem apresentar melhoras mandou-o de volta a Parahyba “ meu velho volte para falecer em casa “, segundo seus próprias palavras.